terça-feira, 22 de maio de 2012

Mostra Gastronómica de Outil

Amigos, já estão online as fotos da festa gastronómica da nossa freguesia.
Vejam aqui:
http://isidrodias.zenfolio.com nos Eventos Públicos

Partilhem com os amigos e vizinhos da freguesia.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O meu tempo de escola...

O meu tempo de escola foi de 1944 a 1948. Tempos difíceis pois estávamos em plena  segunda guerra mundial. 
Vou falar duma grande Senhora que se chamava Maria Emília Pereira que veio para Vila Nova em 1941 e daqui só saiu para o cemitério. Depois de cem anos de vida, ela foi a nossa professora durante mais ou menos trinta anos. Não foi só professora, foi também a educadora que substituiu os nossos pais que não tinham tempo para isso.
Era rigorosa neste aspecto e tinha sempre à mão a régua que usava por tudo e por nada. Usava-a porque não dava-mos o rendimento que ela pretendia ou para nos castigar por coisas que fazia-mos fora da escola.
E eu apanhava em casa e no dia seguinte apanhava dela na escola. Não achava justo, mas tinha que gramar, porque os meus pais delegavam nela toda a educação.
Ao sábado, formava-mos à sua frente para que nos passasse revista. Via se tinha-mos os ouvidos limpos, as unhas cortadas e limpas… e a pedra que era um rectângulo feito de ardósia envolto em madeira, que nós lavava-mos com sabão amarelo (sabão que era usado nos soalhos das casas), que eram lavadas de vez em quando. Quem não aparecia com a ardósia lavada… lá estava a régua à espera, como se nós miúdos de sete a onze anos tivesse-mos culpa dessa falta de limpeza.
Era exigente, mas se ela não fosse assim, nós não chegava-mos à quarta classe. E mesmo assim, só lá chegavam quatro ou cinco por ano. No meu ano fomos só três. Isto devia-se ao facto de os nossos pais, precisarem de nós para outras tarefas.
A maior parte depois da escola, iam ter com os pais às propriedades ajudá-los nessas tarefas, em especial à frente a guiar os bois na lavoura da terra. Como o ensino não era obrigatório, assim que os filhos aprendiam a ler e escrever o seu nome, logo eram retirados da escola para entrarem no mundo do trabalho, em muitos casos logo a partir dos sete anos.
Naquele tempo, não se falava em exploração infantil.
Até se dizia; “O trabalho do menino é louco, mais louco mais louco é quem o desperdiça”.
Eram outros tempos! Era o tempo em que as pessoas se respeitavam, havia o culto da obediência aos pais e o respeito aos mais velhos, quando se cruzava-mos saudávamo-nos com um Adeus, um bom dia, uma boa tarde, ou boa noite e até amanhã se Deus quiser.
Depois da ceia tínhamos que rezar e no fim pedir a bênção aos pais. Onde estão esses valores? Não faziam mal a ninguém. Lembra-me como se fosse hoje, o meu primeiro dia de escola.
Lá fui eu todo contente, descalço com uma bolsa de serapilheira e dentro dela uma pedra de ardósia e um ponteiro feito da mesma pedra.
Isto comparado com a mochila dos alunos de hoje, que carregam às costas vários kilos de peso. Um dia destes dei-me ao trabalho de pesar a mochila da minha neta, e verifiquei com espanto que ela pesava mais de sete kilos.
Naquele tempo, o lápis vinha depois e a caneta a tinta, só vinha muito mais tarde. Não era por isso que eramos bons ou maus alunos. Ela espremia-nos ao máximo, com métodos de ensino que não eram os mais ortodoxos. No nosso tempo de quatro anos de escola, tinha-mos que aprender de tudo, na geografia; saber de cor o nome de todas as províncias de norte a sul de Portugal, incluindo as do chamado ultramar português, todos os rios e seus afluentes e todas as linhas férias e seus ramais.
Na aritmética, tinha-mos que saber a tabuada de cor e salteado, e ai de nós se ela nos via a contar pelos dedos. Na história, saber os nomes de todos reis e seus cognomes, o nome e datas de todas as batalhas, quer com os castelhanos, quer com os mouros. Na gramática, saber todos os tempos dos verbos, adjectivos, pronomes, substantivos etc.
Ler bem e escrever sem erros, era outra exigência dela. Mas tudo isto ela conseguia, com reguadas ou sem elas. Nós tudo suportava-mos, às vezes com o estomago vazio, pois quantas vezes saia-mos de casa para a escola com fome. Mesmo assim considero-a como uma grande pedagoga. Se não fosse ela, não era pelos meus pais que eu chegava à quarta classe.
Acerca desta nossa professora, vou colar a carta que escrevi e li na homenagem, que lhe dedicámos, organizada pela professora Humbelina Louro, no seu centésimo aniversário.
Vila Nova, Maio de 2012


HOMENAGEM

Esta homenagem que merecidamente aqui estamos a prestar à nossa professora, que adoptou Vila Nova como sua terra e por cá ficou mais de meio século e ficará, olhando à saúde de ferro que aparenta.
Agora agradecia que me deixassem falar um pouco de mim e da Sra. Professora Mª Emília Pereira, para lhe endereçar o meu mais profundo agradecimento por me ter levado a fazer o exame da 4ª classe, pois que os meus pais já tinham decidido que ficaria pela 3ª e iria para a frente dos bois pegando-lhe na soga, guiando-os na lavra dos terrenos, era o que tinha acontecido aos meus irmãos, “hoje chamam-lhe exploração infantil”!  
Não querendo a professora que isto acontecesse mandando alguém da sua estima, a minha casa falar com Eles e assim consegui chegar à 4ª classe, que me deixou preparado para mais tarde concorrer a um cargo que exigia esse grau de ensino e fazer, quando adulto, o 2º ano de liceu.
Também quero dizer que à entrada do 1º dia de aulas fiquei um pouco decepcionado com Ela, uma vez que eu era muito sardento, sabem o que ela me disse?
– Olha este vem todo cágado das moscas! 
Mas isto nunca afectou o relacionamento aluno professora.
Estou também a lembrar-me dos conselhos, entre aspas, que Ela usava para nos fazer aprender, doeu mas valeu a pena!
Termino a desejar-lhe uns anitos mais de vida, mas outros 100 acho que são demais!
Obrigado professora.                                                                                                      
O seu dedicado aluno Albertino Coelho.
Dezembro de 2010