terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Emigrante

O EMIGRANTE DOS ANOS 60, DO SÉCULO PASSADO 
E O EMIGRANTE PRESENTE.
AS DIFERENÇAS


O emigrante português, dos anos 60, era conhecido pela mala de cartão e pelo garrafão de 5 litros. Quando nos encontrávamos no comboio, ou em qualquer parte dos países de destino, não precisávamos perguntar de que nacionalidade era, o garrafão era o seu bilhete de identidade, mas isto não o desprestigiava. O emigrante português era conhecido e aceite como honesto e trabalhador.
Os emigrantes daquele tempo sofreram todas as adversidades para poderem emigrar, pois o regime daquele tempo não lhes dava a liberdade de sair do país, vivíamos em clausura, (Salazar dizia; “orgulhosamente sós”) e pobres como “Jó”, digo eu. A maior parte deles sujeitaram-se a fugirem como ladrões, entregues a pessoas que não conheciam e a entregar-lhe quantias exorbitantes para os passarem para o “lado de lá”, (Espanha e França) quantias essas emprestadas pelas pessoas abastadas do sítio onde moravam e que no trabalho os exploravam quanto podiam. 
E lá foram eles sujeito a tudo, passaram fome, dormiram em palheiros, muitas vezes fechados em cortelhas de animais, sem conhecerem o “passador” que os trouxe até ali, nem “o” que os ia conduzir dali para a frente, sofrendo com o calor que os sufocava, se era de verão, ou lhes gelava os ossos se era de inverno, carregando o pesadelo de não saberem o que lhes ia acontecer no dia seguinte, porque estas viagens duravam vários dias. Atravessaram montanhas, rios e riachos, especialmente nos Pirineus, quase sempre a pé, ou dentro de camionetas de transporte de gado. 
Enfim, os que conseguiram passar, porque houve muitos que tiveram que voltar para traz, pois quando as autoridades portuguesas e espanholas, os encontravam no trajecto, tratavam-nos como animais e os obrigavam a regressar a casa mais pobres do que saíram. Felizmente isto não aconteceu a todos e os que conseguiram “passar” lá estava França a recebê-los. 
Quero aqui afirmar com conhecimento de causa, que foi a França o único país que nos aceitou sem contracto, dando-nos trabalho e que financeiramente nos tirou da miséria onde vivíamos. Eu sou emigrante dos anos 60 e sabem quantas casas na minha terra tinham casa de banho? Contavam-se pelos dedos de uma mão, passados poucos anos começaram a emergir nas nossas aldeias as casas tipo “maison, com janelas por dentro e fenêtres por fora”,( Isto era dito por pessoas que , talvez como uma certa inveja, se sentiam ultrapassadas) mas também tinham casa de banho por dentro, o que levava algumas pessoas duma faixa etária mais adiantada, dizerem que as casas eram muito bonitas, mas fazerem as necessidades fisiológicas dentro de casa, é que não concordavam!
Eu estava a falar dos que conseguiram chegar ao destino e foram esses a base do emigrante de hoje. Esses que já não usam a mala de cartão, mas sim uma pasta de calfe e dentro dela o tal “canudo”. Aqui estão as diferenças; Os emigrantes dos anos 60, fugiram porque o regime de então não lhes dava a facilidade de saírem livremente para deixarem a miséria em que viviam. Os emigrantes de hoje são empurrados pelo governo actual a deixarem o país, porquê? Porque voltamos á miséria desse tempo.
O emigrante de então levava na bagagem as mãos calejadas para usarem a picareta porque não possuíam qualquer formação, quantos eram analfabetos e outros mal sabiam escrever o nome. Eu contactei com emigrantes de todas as regiões, uns mais letrados, outros não, alguns nem sabiam o que era o quilómetro, quando eu lhes perguntava por exemplo; a que distância morava da freguesia, eles respondiam-me: Olhe, fica aí a um tiro de chumbo ou o tempo de fumar um cigarro dois ou três consoante a distância, para estes só lhes restava como trabalho o uso da picareta. 
Nesse tempo os emigrantes levavam consigo azeite, feijão e outros alimentos, como chouriço e presunto, que lhes bastasse para a estadia lá até voltarem de férias, férias que cá nunca tiveram. Isto tudo porque como diziam, mostrando um franco entre os dedos, isto lá em “baixo”, referindo-se a Portugal, vale cinco. 
Era verdade, o franco valia cinco vezes mais que o escudo e o custo de vida lá era pouco superior ao de cá pelo que, com um pouco de poupança dava para amealhar três partes do ordenado, que era cinco vezes mais do que auferiam cá.
O emigrante de hoje leva na pasta o tal “canudo”, produto do sofrimento dos seus pais ou avós, que hoje voltam a sofrer, por ver os seus descendentes, serem obrigados a emigrar, embora sem o medo de serem presos na viagem pelas autoridades. Esta vaga de emigrantes de canudo, já não vão fazer comer, lavar a roupa ou dormir nas barracas de “Champigni”, nem sujeitos a todos os tipos de trabalho. Levam consigo formação que lhes permite trabalhar de bata branca, formação paga pelo erário público com o sacrifício de todos nós e que agora vão desenvolver e ajudar a economia estrangeira, enquanto a nossa se afunda cada vez mais. Serão isto soluções certas?
Senhores governantes aprendam a governar!...