segunda-feira, 27 de junho de 2011

TAPAS e PAPAS... ou SOPAS

TAPAS  E  PAPAS
É um evento patrocinado pela CAMARA MUNICIPAL DE CANTANHEDE. 
Visitei e gostei, devem continuar para valorizar o nosso artesanato, mas fiquei na dúvida do titulo, será que os artesãos sãos os tapas? Pois as papas, entende-se que sejam as tasquinhas.
Quero aqui deixar um voto de louvor a todos os artesãos que ali expuseram a sua imaginação a partir da pedra, do pau., do ferro, da cerâmica, do vidro, das tintas, dos têxteis, das latas e de todos os outros, BEM HAJAM.
Quero também deixar um recado a uma das tasquinhas, que me julgou pela aparência, vendendo-me “gato por lebre”. Pedi duas bifanas para levar para casa, pois no dia anterior tinha comido lá uma sandes de leitão que me soube às mil maravilhas, o que me levou a pedir outra para levar á minha mulher, que lhe chamou um figo. Neste caso das bifanas o funcionário não era o mesmo, e sabem o que saiu dentro da embalagem que estava bem apresentada, com papel de prata e tudo? 
Dentro do pão estavam uns bocados de carne da grelha do meio dia, meia carbonizada que nem a minha gata a quis. Vão enganar o “caraças”!..Não divulgo o nome da tasquinha porque sei que um elemento não faz o grupo.
Agradecia que me esclareçam o TAPAS E PAPAS!..

AS SOPAS
È outro evento, desta vez em Febres. É uma apresentação de sopas para concurso.
Os concorrentes eram restaurantes, instituições e particulares.
Eu desconhecia este evento, mas convidaram-me e eu fui..À entrada do local, mediante uma certa quantia, que não achei caro, deram-nos uma senha que nos dava direito à entrada e à votação para a melhor sopa no nosso gosto, uma tigela e uma colher, e lá fomos nós ao ataque. 
Eram umas vinte panelas a  classificar, eu como era a primeira  vez,  ataquei logo nas primeiras e não passei da quinta, não porque não gostasse, porque estavam todas boas, mas porque enchi cedo o fole.Achei  graça a alguns nomes, tais como: Sopa de três gerações, Sopas de cavalo cansado, Sopa da porca, esta acho que não tinha nada a ver com sopa, gostei e repeti. Desta vez não votei dado que não comi de todas, mas prometo que para a próxima  vou mais cedo e hei-de votar!

Pedreiras de Vila Nova (parte_1)

Este texto foi actualizado em Julho 2011

Estas pedreiras estão situadas a sul do lugar de Vila Nova, freguesia de Outil e concelho de Cantanhede, entre os Fornos da Cal e a Lagoa de Outil.
Hoje só existem os vestígios do local onde laboraram centenas de pessoas de sol a sol e de segunda-feira a sábado, descalços ou de tamancos e até à morte, qual reforma, até era proibido falar nisso, nem havia qualquer protecção social.
Os médicos nesse tempo faziam assistência sob avença anual, não sendo para todas as bolsas, as nossas maleitas naquele tempo eram todas curadas com arnica e papas de linhaça.
Lembro-me do ti António Cotovio da Ribeira dos Moinhos que vinha corcovado e a arrastar as pernas com o peso dos seus muitos anos, todos os dias, para tentar ganhar "algum" para a côdea e para os cigarros de mortalha, o seu único vício, (havendo muitos mais nomes a referir), não gastava fósforos, usava um isqueiro feito por ele, que era um tubo de cana com cinza de tecido lá dentro, um bocado de ferro e uma pederneira, que era uma lasca de pedra dura, que se encontra nas terras, e ao bater com o ferro na pedra na direcção da cinza a incendiava e assim acendia o cigarro. Só despegavam do trabalho à palavra de ordem do patrão, que era a seguinte:
- ESCONDER!... à qual cada um pegava na ferramenta que era propriedade sua, feita artesanalmente pelos irmãos Viriato e Armando (ferreiros) e mais tarde pelo Zé Pirriqui e pelo Silvino de Andorinha, (estes foram ambos “discípulos” do ti Armando) últimos ferreiros neste género de ferramenta para canteiro, e iam mete-la num buraco o mais discretamente possível para evitar que lhe a roubassem e ali ficava até ao nascer do sol do outro dia e ninguém roubava nada,.

Para mim não devia haver ladrões naquele tempo ou não eram protegidos pela justiça como são hoje.

Aqui trabalhavam quase todas as pessoas dos lugares vizinhos, tais como: Zambujal, Fornos da Cal, Gordos, Zambujeiro, Casais de Vera Cruz (aqui quase toda a população), Andorinha, Portela de Tentúgal, Ribeira dos Moinhos e Vila Nova. Os proprietários destas pedreiras eram todos de Vila Nova pelo facto daqueles terrenos serem baldio e terem sido divididos em 1881 em partes iguais, no total de 103 leiras, por todos os casais do dito lugar de Vila Nova. 

A pedra aqui extraída destinava-se à construção de habitações, quer com alvenarias, quer com cantarias, faziam-se também pias para azeite e preparava-se a matéria-prima para a produção de cal (realizada essencialmente na localidade de Fornos,) onde existiam no passado grande número de fornos de cal e ainda hoje funcionam alguns, embora com processos de elaboração diferentes dos de outrora, esta actividade deu o nome ao lugar, Fornos da Cal da freguesia de Cadima.

Métodos da exploração: 
O calcário aqui extraído encontra-se abaixo da superfície da terra pelo que era necessário descobrir a pedra e remover a terra da zona a explorar. Como? 
É aqui que começa todo o processo do arranque até à transformação. 
A terra a remover era transportada em cestas feitas de lascas de castanho, vendidas no mercado tradicional de mercearia e vinhos que existiam aqui à volta, e eram levadas à cabeça por crianças a partir dos sete anos, rapazes e raparigas, contudo, geralmente os rapazes persistiam nesta tarefa apenas até aos 11 ou 12 anos. 
Aqui tínhamos um processo curioso de resolver situações, que se chamava “ESTAFA”.
No caminho para o aterro com a cesta à cabeça, formávamos uma fila indiana e como ninguém gostava de ser o primeiro da fila, então recorríamos ao processo da “estafa” que era correr sempre com a cesta à cabeça e carregada de terra até que um fracassasse, e seria esse que ficava à frente a marcar a cadência, normalmente era o mais vagaroso e era isso que nos interessava. Éramos também nós, os miúdos do desaterro, que iam à agua com um caneco com capacidade de mais ou menos 15 litros, a uma fonte que distava das pedreiras cerca de dois quilómetros, e tínhamos uma maneira habilidosa de descansar ao meio do caminho. 
Como era difícil pegar no caneco a partir do chão e mete-lo à cabeça, e como estava-mos numa zona de pinhal, cortava-mos um ramo de pinheiro deixando uma fracção aproximada de 20 centímetros a partir do tronco e à nossa altura, e aí enfiávamos a asa do dito caneco, saindo debaixo dele. Também éramos nós que íamos à “vila”, o porquê desta expressão, não sei, a palavra de ordem era a seguinte:
- Moço à vila!
E lá íamos nós à taberna mais próxima, que era o Diamantino Calhões nos Fornos da Cal e era mandado “assentar” para pagar no próximo dia 20, dia do pagamento mensal nas pedreiras e da feira em Cantanhede, um feriado para a classe. Quando chegávamos com o garrafão do precioso néctar (vinho), todos gritavam: 
- Não caías meu menino... com medo de partirmos o garrafão. 
Havia o hábito de quem fazia anos, ou por um outro motivo qualquer, pagar um garrafão de vinho que normalmente todo o pessoal da pedreira bebia, mas quando o garrafão era pago por todos, o organizador do “Moço à vila”, perguntava quem é que queria alinhar, havia sempre aqueles que, quando era à borla bebiam, quando era a pagar diziam:
- Ó  pá, não, porque comi figos!
Para justificar que a fruta não faz apetite ao vinho, outros tinham azia e eram sempre os mesmos! E também éramos nós que ao meio dia íamos à lenha para assar a sardinha, que era o almoço de todos os dias com broa de milho, e quando a fogueira já estava em brasas, havia uma palavra de ordem, “assar” e todos ao mesmo tempo espalhavam as sardinhas em cima das brasas, e havia sempre uns engraçadinhos que diziam que as que tivessem um olho virado para cima era deles.
E os mais inocentes perguntavam:
- E as minhas, estão onde? 
(para além das adversidades da época, ainda havia disposição para ironizar) e éramos também nós que íamos com a ferramenta ao ferreiro, com a cesta à cabeça carregada de picões, ponteiros e escopros e ali ficávamos a tocar ao fole até a ferramenta ser aguçada carregando-a de novo de regresso à pedreira, com um peso que nos enfiava a cabeça pelos ombros abaixo. 
Na nossa “Universidade” éramos também praxados. 
No primeiro dia de trabalho mandavam-nos a uma outra pedreira pedir o seixo de aguçar as macetas, e lá ia o “miúdo” fazer o que lhe mandavam. De regresso trazia uma pedra à cabeça tão pesada quanto a sua robustez, com a recomendação de a não deixar cair pois que podia estragar-se. Os mais velhos brincavam com a nossa ingenuidade, como uma pedra de calcário aguçasse alguma ferramenta e muito menos as macetas que não necessitam de aguço, mas era assim o início da nossa escola de vida. 

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Pedreiras de Vila Nova (parte_2)

Como atrás disse, os rapazes só ficavam no desaterro até aos 11, 12 anos data em que passavam para a fase seguinte na hierarquia do canteiro que era o cabouqueiro, as raparigas até ao casamento, os rapazes que queriam, ou que não eram tão dedicados à arte, ficavam nesta categoria toda a vida os outros, só até aprenderem a cortar a pedra, depois iam fazer a aprendizagem do canteiro. Pela descrição que faço das idades, nota-se qual foi a nossa infância e adolescência que ali foi passada com a adversidade dos tempos, descalços, rotos e com fome à mistura, no meu caso só fiquei até à idade da tropa, 1958, poucos anos depois, com as novas tecnologias de exploração que outras zonas souberam aproveitar e nós não, deu-se o declínio e abandono total destas pedreiras e hoje para as descobrir temos que lutar com as silvas que as cobrem completamente.
Quero aqui realçar da dificuldade de transportar a pedra do fundo das pedreiras até à superfície, para aí ser transformada pelos canteiros, que era assim; - Pelo processo do chamado, “pau e corda”, que consistia em meter umas correntes a abraçar a pedra a transportar e alinhávamo-nos de um lado e doutro, tantos quantos pares fossem necessários, consoante o peso da pedra, que às vezes era, quase sempre maior que o nosso próprio peso, os pares, um era esquerdo e o outro era direito, quando não dava certo, um pegava à renhenha
Este processo é difícil de explicar, depois de enfiarmos um pau, que era a “ panca”, não sei porquê este nome, através da corrente e a regularmos à nossa altura, havia um colega que dava a ordem de arranque e todos nos levantávamos ao mesmo tempo, pois estávamos de pernas um pouco flectidas, para assim levantar a pedra, aos 14, 15 anos já éramos sujeitos a este sacrifício, mas fazíamo-lo com uma certa vaidade, até tínhamos vergonha de não aguentar o mesmo que os homens, “qual exploração infantil”.
Falando de mim, com 73 anos ainda cá estou, para poder contar aquilo que eu pessoalmente passei e o que me foi transmitido pelas pessoas que naquela altura já estavam à beira de partir desta para melhor, porque pior não seria!
Este processo do "pau e corda" já era de progresso, porque nas gerações anteriores era muito pior. No processo de exploração, falta dizer como a pedra era arrancada.

Era assim:
Os cabouqueiros com um picão faziam uma ferroada a todo comprimento da talhada a cortar, depois sentavam-se no chão com as pernas abertas e esticadas fazendo um ângulo recto com o tronco, e com a maceta e um ponteiro abriam uns buracos tão bastos quanto necessários, depois enferravam os pinchotes que eram bocados de aço afiados tipo cunha e à força de marreta a bater-lhe em cima.
Isto era um trabalho duro, pois chegavam a andar horas seguidas com a marreta nas mãos que pesava uns dez quilos, até conseguirem espessarem a talhada do banco, nós chamamos banco às fiadas de rochas sobrepostas umas sobre as outras divididas por aquilo a que chamamos lazins no sentido horizontal, a talhada agora livre era refiada pelo mesmo processo, mas com pinchotes mais pequenos à medida das encomendas, sendo então retiradas a “ pau e corda” para os locais onde era transformada pelos canteiros.
As cantarias aqui elaboradas tinham vários destinos, em especial para Coimbra, o Palácio da Justiça foi construído com pedra toda ida daqui, assim como o Pálace Hotel da Cúria, não há lugar nenhum no concelho de Cantanhede, e muitos fora dele que não tenha a marca da nossa pedra. 


Nota extra: clicar 2 vezes nas fotos, para aumentar. 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pedreiras de Vila Nova (parte_3)


O transporte, especialmente antes de 1945, ano em que acabou a segunda guerra mundial, era feito em carros de bois, as camionetas eram raras e só apareceram depois desta data. Quase todos os proprietários de pedreira tinham a sua junta de bois, os que não tinham recorriam aos especialistas do transporte, que eram os chamados “carreiros”, ainda me lembro do ti António Urbano, do ti Júlio costa, do ti Manuel Garrano e outros, que à tarde iam carregar às pedreiras para sair no outro dia, ainda de noite, com um candeeiro a petróleo e a saca do farnel pendurada num fueiro do carro, para assim poderem fazer a viagem no mesmo dia.
Quando era longe, como Coimbra, seria preciso mais que um dia, mas aqui havia uma solução que era uma espécie de área de serviço, uma albergaria onde os animais descansavam e comiam, havia uma entre a quinta do Rol e S. Facundo onde hoje funciona uma fábrica de fogões de sala. 
Esta indústria foi muito importante para o desenvolvimento do lugar de Vila Nova, pois permitiu-nos ter já em 1917, (ano da aparição de N. Senhora de Fátima, estamos em Maio de 2010 a receber a visita do Papa Bento 16) uma escola pública e em 1927 uma sociedade cultural e recreativa, e assim tivemos acesso à escola e a acções culturais, tais como o teatro, ainda hoje o nosso ex-líbris, projectando-nos para um nível superior na cultura e educação ao dos nossos vizinhos.
Enquadra-se aqui dizer que Vila Nova foi em 1936 a primeira aldeia do nosso concelho com a distribuição da rede eléctrica aos seus moradores, graças ao nosso conterrâneo JOSE CARLOS, que foi o pai da luz publica no concelho de Cantanhede.
Por este feito, tem aqui um pedestal em sua homenagem como agradecimento do seu povo, depois tivemos já na década de trinta, dois padres e um oficial do exército e nesta sequência de pessoas com formação académica, temos na nossa terra mais um padre, um juiz, médicos, enfermeiros professores do ensino básico e secundário, engenheiros, técnicos de saúde e já neste ano de 2010 um doutorado, e penso que o primeiro, pela Universidade de Coimbra.  
Haveria muito mais para dizer, mas julgo ter relatado aqui o essencial do que foi a nossa vivencia contribuindo para que não caia no esquecimento as coisas que marcaram uma vida. 
Escreveu Albertino Pereira Coelho um dos muitos que ali passou a juventude num tempo que nos marcou para sempre!...
 
Já depois de ter terminado este registo de memória a preservar, sou informado de que uma empresa, vinda não sei de onde, depois de ter feito uma pesquisa do nosso calcário, adquiriu uns terrenos de pedreiras abandonadas há muitos anos e está a explorar esse calcário que para a empresa tem uma qualidade rara.
Dizem que é para exportar para a China, como atrás disse, o abandono dessas pedreiras, deu-se ao facto de não termos aproveitado as novas tecnologias de exploração, como hoje essa empresa está a trabalhar.
Não sei se esta exploração traz alguma mais valia á nossa terra porque nessa pedreira chegaram a trabalhar mais de quarenta pessoas, esta empresa opera apenas com três homens, explorando muito mais, isto quer dizer que, a mão de obra local desempregada ficou na mesma situação e que as máquinas só beneficiam alguns...
Para que conste e a encerrar este trabalho, fica aqui a devida anotação.
Vila Nova, Dezembro de 2010

Personagens da terra (parte_1)

Cá estou de novo, como prometido, e as histórias que vou contar são do ti Manuel Estrela, mais conhecido pelo Manuel das Pôrras, e que a primeira, é a seguinte…
No funeral da irmã mais velha, quando o padre estava a fazer o levantamento do corpo, uma outra irmã, a chorar, gritava, “ai minha rica irmã que éramos tão amiguinhas”, ele virou-se para as pessoas presentes dizendo:
- Deixem falar porque elas eram como cão e gato!
E disse isto com tanta naturalidade que as pessoas presentes tiveram que rir, quando o acto era de chorar!
Um dia, caiu dentro dum poço, quando alguém o foi salvar, ele muito naturalmente, disse:
- Fui ao fundo como um prego, mas também vim a cima como uma cortiça!
Esta agora é do ti Joaquim Estrela, mais conhecido por Joaquim Passarêta, que um dia estava a reparar um portão, chamou a mulher e pediu-lhe que do lado de dentro, lhe tornasse o portão firme ao endireito do sítio onde ele estava a pregar um prego.
Ela acedeu, mas em vez de o fazer com um objecto qualquer pôs lá directamente a palma da mão, quando o marido estava a pregava o prego ela começou a gritar:
- Aí que me furaste a mão!!!
Ele respondeu-lhe assim:
- Ah, estavas habituada a “ele” entrar de cabeça? Agora entrou de bico!
Este senhor um dia matou uma ovelha.
Depois de esfolada, pendurou-a na adega a enxugar, mas nessa noite foram lá rouba-la.
Ele logo desconfiou quem tinha sido e a suspeita recaiu num compadre, que o tinha ajudado naquela tarefa. A mulher dele, tinha em casa um alguidar que a comadre lhe tinha emprestado e então resolveu de imediato devolver-lho, mas ao entregar-lho disse-lhe:
- Aqui tem o seu alguidar e também uma cebola e um ramo de salsa para refogar a ovelha! 
Foi a insinuação perfeita.
Na nossa terra, existiam muitas figueiras (como já disse noutros escritos) mas não se cultivavam batatas, pelo facto de não termos água para as regar.
Sendo assim as pessoas deslocavam-se ás localidades, onde não havia figueiras, à região a que nós chamamos gândara, trocar figos por batatas, saíamos de madrugada (digo saíamos porque fui muitas vezes com a minha mãe, com a burra carregada de figos) .
Lembra-me bem do “pregão” que era o seguinte:
- Quer trocar tia?
E as que queriam, traziam a tigela de tender a broa cheia de batatas e levavam-na cheia de figos. Isto repetia-se enquanto houve-se figos. A zona da minha mãe era Cochadas.
Era o que fazia regularmente o ti Joaquim Estrela, lá pediam-lhe que lhe leva-se uma figueira para plantar, ele para ser amável logo lhe dizia que sim, mas sabem o que ele fazia antes de lhe a entregar? Cozia-lhe a raiz. Assim tinha a certeza que o negócio do troco não acabava.

Personagens da terra (parte_2)

O ti Germano era um castiço cá da terra.
Em cada frase que proferia punha-lhe sempre um tom irónico. Um dia estava a escolher azeitona para conserva e, como a idade já era avançada e não via bem, a filha que estava com ele repreende-o dizendo-lhe que estava a meter azeitonas impróprias para conservar, ele respondeu-lhe assim: 
- O raio das azeitonas já não vêem os olhos!...
Um dia deixou cair um balde no poço, e quando andava a tentar retira-lo, alguém lhe perguntou o que tinha acontecido, a resposta dele foi:
- O poço que caiu no balde!...
Estava em casa duma filha, e quando o genro chegou, perguntou-lhe:
- Oh senhor pai!
(era assim que os genros tratavam os sogros, quando havia valores que infelizmente se perderam)
– Onde está a minha mulher?
E lá respondeu ele com a sua maneira peculiar de dizer as coisas:
- Anda para aí com o forno no lume!
Ele também dizia deste genro, que às vezes dava com um cabo de enxada pelas costiveiras acima da filha, dizendo depois que era dar-lhe a educação:
- Se aquilo era dar-lhe educação eu vou ali e volto já!... dizia o sogro.
Ele também gostava de dizer as coisas a rimar, era músico e tocava violão numa tuna cá da terra, que tinham uma charrette puxada por cavalos.
Quando desciam uma ladeira, os cavalos pegaram o freio a dente, saíram da estrada e entraram por batatal dentro, a charrette voltou-se e o ti Germano assim que conseguiu sair daquela confusão, saiu-se com esta expressão:
- Valha-nos Cristo dos Minerais que já não há quem nos livre dos batatais!
Encontraram-no num caminho com um passo acelerado, e aconselharam-no a ir mais devagar ao que ele respondeu:
- Então eu vou cansado de ir à pressa, que fará se fosse devagar!
Esta será a última deste senhor, que eu não resisto sem a contar, embora ela tenha uma obscenidade no meio e que eu vou completar a palavra com reticências, por respeito às pessoas que lerem esta história.
Como atrás vos disse, ele tinha um violão que, devido à sua idade avançada, já não utilizava, mas que uma gata aproveitou para ali ter os seus gatinhos, e ele ouvia, de vez em quando, com a entrada da gata no violão, o som das cordas, e resolveu ir pesquisar o que se passava, quando deu com os gatinhos, resolveu então tira-los de lá, ao retira-los, contou-os pausadamente, assim…
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, eram sete.
Isto soube-se na terra... e há sempre os engraçadinhos que gostam de gozar com os outros, em especial com os que não podem defender-se.
Um dia estava sentado à porta, com um neto, e ao aproximar-se um grupo de homens que regressavam dos trabalhos de agricultura, logo um para o gozar, repetiu as palavras que ele disse quando retirou os gatinhos do violão assim:
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, eram sete
Ele não sabia quem era, e perguntou ao neto, o neto disse-lhe que era o ti Germino, o filho do ti Manuel Garrano, ele suspirou de alívio, porque a este podia responder como entendesse, e atirou-lhe com esta:
- Ah, vens-te a rir, vens contente, vai fod… outro não me arreganhes o dente!

Vila Nova, 4 de Dezembro de 2010.
Prometo voltar!

DIZIDELAS do Ti ARTUR (parte_1)

Quem era o Ti Artur?
Era um homem que nasceu em Vila Nova, lugar que dista de Cantanhede cerca de 5 Km.
Homem vigoroso, de educação um pouco rude. Com alguma cultura, tinha a que o meio lhe permitiu adquirir e morreu com 92 anos, sem nunca ter encontrado a mulher que viesse a ser sua, pelo que o celibato o deixava vulnerável às piadas das pessoas que o conheciam.

Para esses ele tinha uma resposta que era a seguinte:
- O MEU CHAPÉU ANDA Á RODA; O VOSSO NÃO SEI SE ANDA, NEM SE NÃO...
Queria ele dizer que na cabeça dele não havia nada a impedir que o chapéu andasse à volta!
Vivia sozinho, com muitas dificuldades de subsistência, pelo que vinha muitas vezes a nossa casa para comer uma sopa.
Era o que tinha-mos e para não pedir, ao entrar dizia:
- PONHA LÁ MAIS UM PÚCARO DE ÁGUA!...
Subentende-se que um púcaro de água a mais dava um prato de sopa, será o que fazem os restaurantes quando lhes aparece clientes com que não contam?
Uma certa ocasião, criou um porco, para depois de gordo o ir vender à feira de Arazede.
Apareceu logo um interessado na compra do dito porco, que estava gordinho.
Era um negociante matreiro e para desfazer do animal, perguntou-lhe donde era ele, ao que ele lhe respondeu que era de Vila Nova, onde existia e ainda existem muitas figueiras.
O negociante logo lhe disse:
- Então o porco foi gordo com figos.
Resposta imediata do ti Artur:
- SEJA COM FIGOS, SEJA COM MERDA, ESTA GORDO...
Mesmo assim fizeram negócio, e quando lhe perguntaram por quanto o tinha vendido, a resposta foi a seguinte:
- O NEGOCIANTE OFERECEU, EU PEDI, ELE NÃO DEU MAIS... MAS EU TAMBÉM NÃO VENDI POR MENOS!
E ficamos a saber o mesmo.

DIZIDELAS do Ti ARTUR (parte_2)

Um dia perguntaram-lhe na rua se ele tinha troco de 100 escudos, e a resposta foi a seguinte:
- AQUI NÃO TENHO.
- E EM CASA?

Perguntou-lhe o interessado:
- EM CASA ESTÁ TUDO BEM MUITO OBRIGADO!
Vila Nova foi, antes da generalização do ensino, era uma terra que se destacava por ter pessoas no seu seio com cultura acima da média.
E eu que tenho setenta anos, lembro-me que na década de trinta, já existia no exército o sr. Capitão Martins, na igreja católica, o sr Padre Martins e o sr Cónego TOMÁS PÓVOA que foi durante muitos anos, reitor do Seminário da Figueira da Foz que, cuja autarquia não o esqueceu dedicando-lhe uma rua com o seu nome.
Aqui na sua terra natal, não houve nem um beco para lhe dedicar, (senhores da autarquia, ainda estamos a tempo!).
Na década de sessenta, apareceram então os primeiros professores do ensino primário (hoje ensino básico) Joaquim Póvoa e Virgínia Serralheiro, pouco depois a Irene Costa. Duas décadas mais tarde, apareceram então advogados, médicos, juízes, engenheiros, técnicos de saúde e mais tarde professores do ensino básico e secundário e para perdoar os nossos pecados, mais um padre e para curar as nossas maleitas uma médica.
É aqui que entra de novo o ti Artur, com mais “uma” das dele.
E ele que via todos os dias passar os estudantes para as aulas, em Cantanhede. Depois no final do ano lectivo, ouvia as mães dizerem com alguma vaidade:
- Olha! o meu filho passou.
- Ah! o meu também.

E o ti Artur dizia:
- PASSARAM, PASSARAM, PARA LÁ E PARA CÁ, QUE EU BEM OS VI!....
Quando o Ti Artur passava na minha rua... dizia:
- Hoje vou jantar à figueira.
E eu que era miúdo pensava que ele ia à Figueira da Foz, e eu perguntava porque é que não me levava com ele, que sou o seu sobrinho mais novo?
Mais tarde descobri que levava um bocado de broa no bolso para comer com figos numa figueira que ele tinha numa terra aqui próximo.

Nós costumamos, quando estamos sentados e nos levantamos, dizer:
- OU UPA!..
E ti Artur dizia:
- E enquanto fizermos UPA para cima, ainda vai tudo bem, mal vai é quando já fazemos UPA para baixo.
Isto quer dizer que ao sentarmo-nos, já temos muita dificuldade e gritamos, AI..AI...AI…
Sinónimo de velhice!
Com a idade, ti Artur queixava-se com dores, e nós num tom irónico, dizíamos-lhe que era manha, e ele respondia-nos assim:
- Quando vocês chegarem à minha idade, DEUS QUEIRA QUE NÃO!... Vocês verão.
Também tinha um pouco de filósofo, dizia que tudo o que se diz, ou houve ou há ou está para haver. Quando tivemos acesso ao telefone, isto por volta de 1952, um irmão meu (Idálio) , que vivia com ele tinha uma exploração de calcário e fornecia cantarias.
Os clientes necessitavam de o contactar pelo dito telefone. Um dia estava sozinho em casa, quando o telefone tocou e o ti Artur, embora não sendo seu hábito, foi atender e ao levantar o auscultador, não deixou que ninguém lhe perguntasse nada, e disse.
- NÃO ESTÁ CÁ ELE, NEM ESTÁ CÁ ELA, E SE EU CÁ NÃO ESTIVESSE, NÃO ESTAVA CÁ NINGUÉM.
E pousou de novo o auscultador.
Isto não se sabia se não fosse o cliente do Idálio a perguntar-lhe se ele não tinha um tolo em casa, para quem o conhecia não era tolo nenhum!

Um dia, foi com um carro de azeitona para o lagar, fazer azeite e já chegou muito tarde... e com uns copos a mais. Ao deitar-se pendurou a roupa na barra da cama, que era de ferro, e a candeia de azeite também, que era a electricidade dos pobres, e adormeceu.
No dia seguinte foi encontrado, pelos vizinhos, atraídos pelo fumo que saía de casa, estava no chão inanimado, fora da cama da qual só restou os ferros.
Dali foi parar ao hospital, onde permaneceu algum tempo a ser tratado das queimaduras graves que sofreu.
Quando lhe perguntavam:
- Então ti Artur, o que lhe aconteceu?
Ele respondia assim:
- FOI O DIABO! A TENDA ARDEU (isto referindo-se à cama), MAS O TENDEIRO FICOU!...
As enfermeiras eram religiosas, e queriam que ele as tratassem por irmãs, e ele que não era nada dessas “coisas”, dizia assim:
- IRMÃS? IRMÃS DAS IRMÃS DELAS, O MEU PAI FÊLAS?

DIZIDELAS do Ti ARTUR (parte_3)

Também tinha uma maneira muito simpática de nos chamar burros. Quando lhe oferecíamos qualquer coisa que ele não queria, e nós insistíamos, a reacção era esta:
- DISSE QUE NÃO, É NÃO, HARR….E.
Que era assim que era assim que mandávamos os burros andar!
Uma vez, ia a passar na rua, que naquele tempo não era asfaltada, tropeçou numa pedra e caiu.
As pessoas que assistiram, julgavam que ele ao levantar-se iria barafustar, reclamando pelo estado da rua, enganaram-se; pois levantou-se, olhou muito sério para a pedra e disse:
- POIS É! TU JÁ AÍ ESTAVAS!...
Ele ouvia as mulheres dizerem:
- JÁ HOJE DEI TANTA VOLTA, fazendo crer que trabalharam muito, ele dizia:
- Quem as mandou ir à volta? FOSSEM A DIREITO!...
Num dia que estava chover, ele ia a andar muito devagarinho, perguntaram-lhe se não podia ir mais depressa para fugir da chuva.
Ele respondeu assim:
- Se eu for mais à pressa, APANHO ESTA E A QUE ESTA LÁ À FRENTE!...
Quando falamos de religião, dizemos que Deus é o bem e que Diabo, é o mal. E o ti Artur, dizia:
- O DEUS É O DINHEIRO, E O DIABO É NÃO O TER!…

Por vezes queixamo-nos de que não nos dão valor, às nossas boas qualidades, e o ti Artur dizia que quem era bom ESCUSAVA DE SER GABADO!
Quando ouvia alguém a dizer, que um individuo era muito boa pessoa, ele fazia esta pergunta:
- JÁ TIVESTE NEGÓCIOS COM ELE? 
E resposta era não. Então ele dizia:
- ENTÃO NÃO SABES!..
O ti Artur tinha pouco cuidado com a sua higiene corporal.
No tempo dele não havia agua na nossa terra, só as pessoas mais abastadas tinham cisternas, que de inverno, recuperavam as águas da chuva, que vinham dos telhados, canalizadas para as ditas cisternas. Os outros tínhamos fonte, que de verão chegava a fornecer-nos apenas 20 litros por hora. Como trazia a cara suja, alguém lhe a mandou lavar, ele não gostou muito, e respondeu assim:
- ENQUANTO ESTE SUJO LÁ ESTIVER NÃO VAI PARA LÁ OUTRO!...
Um dia estava com o Jorge Martins, estudante naquela altura, hoje médico e já reformado, saiu com esta
- TU E EU À PORTA DUMA PADARIA, AFASTÁVAMOS A CLIENTELA TODA!... 
Isto, porque ambos não deviam nada à formosura.
Um dia fizeram uma excursão de autocarro ao Norte. Ele soube que, um certo fulano, tinha pedido dinheiro emprestado ao ti Zé Morais para ir nessa excursão. No dia do embarque, o ti Artur estava lá e viu que o tal fulano também ia, e disse para os presentes:
- Olha! O Zé Morais também vai.
E há um que disse:
- Não, ele não vai.
E o ti Artur disse:
- NÃO VAI MAS VAI…

DIZIDELAS do TI ARTUR (parte_4)

Ia à padaria e pedia dois bicos, um bico aqui na zona é um pão pequeno alongado terminando as extremidades em forma de bico, quem o atendia, dava-lhe dois pães desses, e ele dizia:
- Eu só pedi dois bicos, e então?
Dizia-lhe o empregado:
- ENTÃO SE SABE CONTAR, VEJA QUANTOS BICOS ME ESTÁ A DAR
Dizia o ti Artur e tinha razão!...
Dizia que um homem, para ser homem
- TEM QUE DEIXAR NOME NEM QUE SEJA DE LADRÃO!
Poucos dias antes de morrer, já dizia 
- É O FIM!
Quando no último dia à noite lhe foram prestar assistência, ele disse:
- Vão se embora que é “ela”. E foi, era a morte. No dia seguinte de manhã, deixou-nos.
Que Deus o tenha em descanso!
Antes de terminar este registo de memória futura.
Quero esclarecer os mais novos que não o conheceram, e que usam as expressões dele, como a do CHAPÉU QUE ANDA À RODA.
Nós costumamos dizer que Anda á volta como o chapéu do ti Artur, quando uma coisa qualquer anda à volta e não se segura, ele queria dizer, que na cabeça dele não havia nada a impedir que o chapéu rodasse.
Como era solteiro. não havia infidelidade da mulher, facto que fazia nascer cornos na cabeça dos homens. 
A outra do, está gordo, quando a uma pergunta que não nos interessa responder, como por exemplo como conseguiste isso? Nós respondemos, utilizando a dizidela do ti Artur Está gordo… 

E o nosso interlocutor fica a saber o mesmo!
Albertino Pereira coelho, seu sobrinho mais novo.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Histórias Reais

HISTORIAS REAIS DE ALGUNS NOSSOS CONTERRÂNEOS 
QUE JÁ DEIXARAM ESTA VIDA QUE AQUI VOU RELATAR 
COM O DEVIDO RESPEITO PELA SUA MEMORIA

Aqui vai a primeira e é do ti ABÍLIO CASSOTE que no tempo em que as nossas cantarias eram transportadas em carros de bois, ele era um dos que fazia esse transporte. 

Uma vez foi fazer um frete para os lados de Anadia e quando chegou ao lugar de Ancas encontrou uma senhora e maliciosamente perguntou-lhe: 
- Minha senhora, diga-me por favor, indo por “ancas” acima onde é que se vai ter?
A senhora compreendeu de imediato a malandrice e a resposta foi a seguinte: 
- Vai ter à raiz da “p_t_ que o pariu seu filho da p_t_.
Num desses fretes, um dia encontrou uma mulher que lhe disse que tinha o marido no Brasil e o “bom do ti Abílio” com a malandrice que o caracterizava, logo pensou que tinha ali uma oportunidade para mais uma das dele, depois de ela lhe dizer em que localidade o marido estava disse-lhe que tinha vindo de lá há pouco tempo e que voltava para lá no próximo mês, perguntou-lhe então como se chamava o marido, ao que ela lhe respondeu que ele se chamava António Lopes:
- O quê? O seu marido é o meu grande amigo Lopes?
Homem que ele nunca viu, nem pensava voltar ao Brasil, ela pediu-lhe uma vez que voltava para junto do seu marido, que lhe levasse alguma coisa, ao que ele acedeu imediatamente, ela depois de ter preparado a encomenda, pediu-lhe se podia juntar umas nozes, ele disse que sim, e acrescentou: 
- Mas que mandasse das de melhor qualidade, porque à passagem do equador, quando os corpos se sentem, o que fará aos frutos…
Estão a ver qual foi o destino dessa encomenda!

Um dia as coisas não lhe correram tão bem, era de inverno e ainda de noite quando ia a passar por uma povoação com mais um frete de cantaria, ouviu pessoas a falar numa adega e logo pensou que deviam estar a beber uns copos e tentou a sua sorte deste modo: bateu ao portão e quando alguém o abriu ele respeitosamente disse boa noite e pediu-lhe um copo de água que vinha cheio de sede, e a resposta foi esta: “Olhe, a fonte é aí mais abaixo…” – e lá foi ele com a mesma sede, passando pela dita fonte como o cão pela vinha vindimada…
Ele tinha um sobrinho, filho dum cunhado que era o ti Joaquim Manco, manco porque era amputado de uma perna, o sobrinho – Manuel Silva, andava a namoriscar uma rapariga ali para os lados de Arazede, a rapariga queria uma relação séria e não o deixava “adiantar” pelo que resolveu, para validar mais a relação, pedir ao tio que fosse a casa dela pedi-la em casamento, ao que ele acedeu. O ti Abílio pôs-se a cavalo na burra, que era o seu meio de transporte, num domingo e chegou lá por volta das dez horas, já estava com a mãe da rapariga, quando o sino começou a tocar, ele com ar de admirado, sabendo que era uma família muito religiosa, perguntou-lhe: “Por que é que o sino está a tocar, minha senhora? – ela disse-lhe que era para a missa, ele com ar de muito devoto, sem nunca frequentar a missa, respondeu-lhe assim: “É para a missa! E eu hoje que fiquei sem missinha para poder vir pedir a mão da sua filha em casamento para o meu sobrinho, porque o meu é cunhado é manco e não se pode deslocar” – ela aceitou o seu pedido, deixando assim o caminho livre ao Manel Silva para os seus propósitos… 
Imaginem o que se passou a seguir!... 
 
Aproveito a ocasião para dizer com muita satisfação que temos neste momento a visita do seu neto Manuel Jorge (Manuel Cassote) a passar férias neste pais de sua origem que muito nos apraz registar, este neto do ti Abílio, que é da minha juventude, e que eu conheço muito bem, trabalhador, honesto, e pelo que sei, muito bem de vida no país de acolhimento que é o Brasil, onde o seu avô também tentou ali a sua sorte mas, sem o sucesso deste neto, que tem a veia do avô no que diz respeito à “malandrice que tanto o caracterizava”, não vamos entrar em pormenores, mas lá que tem, tem!... 
Quero também dizer que o ti Abílio era meu tio avô.
Encerro aqui, esta história, com a promessa de que vou continuar com outras, assim que a inspiração me convoque.
Albertino Pereira Coelho.
Vila Nova, Outubro de 2010.