quinta-feira, 2 de junho de 2011

Histórias Reais

HISTORIAS REAIS DE ALGUNS NOSSOS CONTERRÂNEOS 
QUE JÁ DEIXARAM ESTA VIDA QUE AQUI VOU RELATAR 
COM O DEVIDO RESPEITO PELA SUA MEMORIA

Aqui vai a primeira e é do ti ABÍLIO CASSOTE que no tempo em que as nossas cantarias eram transportadas em carros de bois, ele era um dos que fazia esse transporte. 

Uma vez foi fazer um frete para os lados de Anadia e quando chegou ao lugar de Ancas encontrou uma senhora e maliciosamente perguntou-lhe: 
- Minha senhora, diga-me por favor, indo por “ancas” acima onde é que se vai ter?
A senhora compreendeu de imediato a malandrice e a resposta foi a seguinte: 
- Vai ter à raiz da “p_t_ que o pariu seu filho da p_t_.
Num desses fretes, um dia encontrou uma mulher que lhe disse que tinha o marido no Brasil e o “bom do ti Abílio” com a malandrice que o caracterizava, logo pensou que tinha ali uma oportunidade para mais uma das dele, depois de ela lhe dizer em que localidade o marido estava disse-lhe que tinha vindo de lá há pouco tempo e que voltava para lá no próximo mês, perguntou-lhe então como se chamava o marido, ao que ela lhe respondeu que ele se chamava António Lopes:
- O quê? O seu marido é o meu grande amigo Lopes?
Homem que ele nunca viu, nem pensava voltar ao Brasil, ela pediu-lhe uma vez que voltava para junto do seu marido, que lhe levasse alguma coisa, ao que ele acedeu imediatamente, ela depois de ter preparado a encomenda, pediu-lhe se podia juntar umas nozes, ele disse que sim, e acrescentou: 
- Mas que mandasse das de melhor qualidade, porque à passagem do equador, quando os corpos se sentem, o que fará aos frutos…
Estão a ver qual foi o destino dessa encomenda!

Um dia as coisas não lhe correram tão bem, era de inverno e ainda de noite quando ia a passar por uma povoação com mais um frete de cantaria, ouviu pessoas a falar numa adega e logo pensou que deviam estar a beber uns copos e tentou a sua sorte deste modo: bateu ao portão e quando alguém o abriu ele respeitosamente disse boa noite e pediu-lhe um copo de água que vinha cheio de sede, e a resposta foi esta: “Olhe, a fonte é aí mais abaixo…” – e lá foi ele com a mesma sede, passando pela dita fonte como o cão pela vinha vindimada…
Ele tinha um sobrinho, filho dum cunhado que era o ti Joaquim Manco, manco porque era amputado de uma perna, o sobrinho – Manuel Silva, andava a namoriscar uma rapariga ali para os lados de Arazede, a rapariga queria uma relação séria e não o deixava “adiantar” pelo que resolveu, para validar mais a relação, pedir ao tio que fosse a casa dela pedi-la em casamento, ao que ele acedeu. O ti Abílio pôs-se a cavalo na burra, que era o seu meio de transporte, num domingo e chegou lá por volta das dez horas, já estava com a mãe da rapariga, quando o sino começou a tocar, ele com ar de admirado, sabendo que era uma família muito religiosa, perguntou-lhe: “Por que é que o sino está a tocar, minha senhora? – ela disse-lhe que era para a missa, ele com ar de muito devoto, sem nunca frequentar a missa, respondeu-lhe assim: “É para a missa! E eu hoje que fiquei sem missinha para poder vir pedir a mão da sua filha em casamento para o meu sobrinho, porque o meu é cunhado é manco e não se pode deslocar” – ela aceitou o seu pedido, deixando assim o caminho livre ao Manel Silva para os seus propósitos… 
Imaginem o que se passou a seguir!... 
 
Aproveito a ocasião para dizer com muita satisfação que temos neste momento a visita do seu neto Manuel Jorge (Manuel Cassote) a passar férias neste pais de sua origem que muito nos apraz registar, este neto do ti Abílio, que é da minha juventude, e que eu conheço muito bem, trabalhador, honesto, e pelo que sei, muito bem de vida no país de acolhimento que é o Brasil, onde o seu avô também tentou ali a sua sorte mas, sem o sucesso deste neto, que tem a veia do avô no que diz respeito à “malandrice que tanto o caracterizava”, não vamos entrar em pormenores, mas lá que tem, tem!... 
Quero também dizer que o ti Abílio era meu tio avô.
Encerro aqui, esta história, com a promessa de que vou continuar com outras, assim que a inspiração me convoque.
Albertino Pereira Coelho.
Vila Nova, Outubro de 2010.

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