quarta-feira, 22 de junho de 2011

Personagens da terra (parte_2)

O ti Germano era um castiço cá da terra.
Em cada frase que proferia punha-lhe sempre um tom irónico. Um dia estava a escolher azeitona para conserva e, como a idade já era avançada e não via bem, a filha que estava com ele repreende-o dizendo-lhe que estava a meter azeitonas impróprias para conservar, ele respondeu-lhe assim: 
- O raio das azeitonas já não vêem os olhos!...
Um dia deixou cair um balde no poço, e quando andava a tentar retira-lo, alguém lhe perguntou o que tinha acontecido, a resposta dele foi:
- O poço que caiu no balde!...
Estava em casa duma filha, e quando o genro chegou, perguntou-lhe:
- Oh senhor pai!
(era assim que os genros tratavam os sogros, quando havia valores que infelizmente se perderam)
– Onde está a minha mulher?
E lá respondeu ele com a sua maneira peculiar de dizer as coisas:
- Anda para aí com o forno no lume!
Ele também dizia deste genro, que às vezes dava com um cabo de enxada pelas costiveiras acima da filha, dizendo depois que era dar-lhe a educação:
- Se aquilo era dar-lhe educação eu vou ali e volto já!... dizia o sogro.
Ele também gostava de dizer as coisas a rimar, era músico e tocava violão numa tuna cá da terra, que tinham uma charrette puxada por cavalos.
Quando desciam uma ladeira, os cavalos pegaram o freio a dente, saíram da estrada e entraram por batatal dentro, a charrette voltou-se e o ti Germano assim que conseguiu sair daquela confusão, saiu-se com esta expressão:
- Valha-nos Cristo dos Minerais que já não há quem nos livre dos batatais!
Encontraram-no num caminho com um passo acelerado, e aconselharam-no a ir mais devagar ao que ele respondeu:
- Então eu vou cansado de ir à pressa, que fará se fosse devagar!
Esta será a última deste senhor, que eu não resisto sem a contar, embora ela tenha uma obscenidade no meio e que eu vou completar a palavra com reticências, por respeito às pessoas que lerem esta história.
Como atrás vos disse, ele tinha um violão que, devido à sua idade avançada, já não utilizava, mas que uma gata aproveitou para ali ter os seus gatinhos, e ele ouvia, de vez em quando, com a entrada da gata no violão, o som das cordas, e resolveu ir pesquisar o que se passava, quando deu com os gatinhos, resolveu então tira-los de lá, ao retira-los, contou-os pausadamente, assim…
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, eram sete.
Isto soube-se na terra... e há sempre os engraçadinhos que gostam de gozar com os outros, em especial com os que não podem defender-se.
Um dia estava sentado à porta, com um neto, e ao aproximar-se um grupo de homens que regressavam dos trabalhos de agricultura, logo um para o gozar, repetiu as palavras que ele disse quando retirou os gatinhos do violão assim:
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, eram sete
Ele não sabia quem era, e perguntou ao neto, o neto disse-lhe que era o ti Germino, o filho do ti Manuel Garrano, ele suspirou de alívio, porque a este podia responder como entendesse, e atirou-lhe com esta:
- Ah, vens-te a rir, vens contente, vai fod… outro não me arreganhes o dente!

Vila Nova, 4 de Dezembro de 2010.
Prometo voltar!

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