quarta-feira, 22 de junho de 2011

Personagens da terra (parte_1)

Cá estou de novo, como prometido, e as histórias que vou contar são do ti Manuel Estrela, mais conhecido pelo Manuel das Pôrras, e que a primeira, é a seguinte…
No funeral da irmã mais velha, quando o padre estava a fazer o levantamento do corpo, uma outra irmã, a chorar, gritava, “ai minha rica irmã que éramos tão amiguinhas”, ele virou-se para as pessoas presentes dizendo:
- Deixem falar porque elas eram como cão e gato!
E disse isto com tanta naturalidade que as pessoas presentes tiveram que rir, quando o acto era de chorar!
Um dia, caiu dentro dum poço, quando alguém o foi salvar, ele muito naturalmente, disse:
- Fui ao fundo como um prego, mas também vim a cima como uma cortiça!
Esta agora é do ti Joaquim Estrela, mais conhecido por Joaquim Passarêta, que um dia estava a reparar um portão, chamou a mulher e pediu-lhe que do lado de dentro, lhe tornasse o portão firme ao endireito do sítio onde ele estava a pregar um prego.
Ela acedeu, mas em vez de o fazer com um objecto qualquer pôs lá directamente a palma da mão, quando o marido estava a pregava o prego ela começou a gritar:
- Aí que me furaste a mão!!!
Ele respondeu-lhe assim:
- Ah, estavas habituada a “ele” entrar de cabeça? Agora entrou de bico!
Este senhor um dia matou uma ovelha.
Depois de esfolada, pendurou-a na adega a enxugar, mas nessa noite foram lá rouba-la.
Ele logo desconfiou quem tinha sido e a suspeita recaiu num compadre, que o tinha ajudado naquela tarefa. A mulher dele, tinha em casa um alguidar que a comadre lhe tinha emprestado e então resolveu de imediato devolver-lho, mas ao entregar-lho disse-lhe:
- Aqui tem o seu alguidar e também uma cebola e um ramo de salsa para refogar a ovelha! 
Foi a insinuação perfeita.
Na nossa terra, existiam muitas figueiras (como já disse noutros escritos) mas não se cultivavam batatas, pelo facto de não termos água para as regar.
Sendo assim as pessoas deslocavam-se ás localidades, onde não havia figueiras, à região a que nós chamamos gândara, trocar figos por batatas, saíamos de madrugada (digo saíamos porque fui muitas vezes com a minha mãe, com a burra carregada de figos) .
Lembra-me bem do “pregão” que era o seguinte:
- Quer trocar tia?
E as que queriam, traziam a tigela de tender a broa cheia de batatas e levavam-na cheia de figos. Isto repetia-se enquanto houve-se figos. A zona da minha mãe era Cochadas.
Era o que fazia regularmente o ti Joaquim Estrela, lá pediam-lhe que lhe leva-se uma figueira para plantar, ele para ser amável logo lhe dizia que sim, mas sabem o que ele fazia antes de lhe a entregar? Cozia-lhe a raiz. Assim tinha a certeza que o negócio do troco não acabava.

1 comentário:

Nuno disse...

Deliciosas essas histórias, sou bisneto do Joaquim Estrela (ou Joaquim Passarêta) e não conhecia essas histórias, se conhecer mais gostaria de as conhecer, claro.
Um abraço