domingo, 20 de julho de 2014

ERA UMA VEZ UMA LINHA FERROVIÁRIA

Com este nome, foi publicada no facebook uma foto, que me fez voltar aos meus tempos de menino, quando os comboios ainda eram movidos a vapor. Quando o comboio apitava no ramal Pampilhosa-Figueira da Foz, era como se fosse um relógio, que naquele tempo pouca gente possuía.



Sabíamos que o primeiro a passar, por volta das seis e meia, era de levantar e qual café, era pegar na enxada e ir para as terras sachar o milho, ou cavar a vinha, ou outros trabalhos agrícolas. O segundo passava por volta das nove. Era a hora do almoço... a primeira refeição do dia. A seguir vinha o das onze, que nós aqui na aldeia (Vila Nova de Outil), chamávamos o comboio da sardinha. Era à estação de Lemede que a ti Angelina Neta ia buscar a canastra de sardinha, despachada da Figueira da Foz, que carregava à cabeça e de volta vendia porta à porta com o pregão, “sardinha fresca”! Isto era ritual diário. 
Passava outro às cinco da tarde, que era o da merenda. O sinal para o jantar, que era ao meio dia, naquele tempo, era dado pelo relógio da torre da igreja, assim como o da despega, pelo toque das trindades.
E como tudo acaba, acabaram também com esta linha, que servia de algum desenvolvimento à área envolvente, e o que resta dela são as tulipas, a brita e as silvas como ornamentação. Os carris, roubados ou vendidos, já foram, porque é coisa que ainda dá algum dinheiro, que é o que conta para os nossos “governantes”.
E agora uma pergunta:
- O que vão fazer os nossos governantes com aquele espaço? 
Eu deixo a minha sugestão: 
O espaço tem largura suficiente para uma pista ciclável e pedestre!


terça-feira, 25 de março de 2014

Lembranças da minha infância - “TERREIRO DA ERVA EM COIMBRA”

Quem se lembra deste sítio? 
Estou parado e dentro do carro.
Está a chover muito e estou à espera dos meus familiares que foram fazer compras. Então lembrei-me dos meus tempos de jovem, tão jovem que aos onze anos de idade, aqui passei pela primeira vez na companhia do meu irmão mais velho e um sócio seu, que me diz:” Olha é aqui que tu hás-de vir aguçar o bico”.
Só anos mais tarde soube o que ele queria dizer. Era ali que existia a casa das “meninas”(bordel) que eram autorizadas pelo estado e pagavam impostos por essa exploração. 
Por estar a chover muito, não admira... 
Estou a escrever em Janeiro e então lembrou-me que no tempo das grandes cheias do Mondego, neste sítio se “andava” de barco. Estou a falar de 1948, pelo que pouca gente se lembrará disto. Naquele tempo as cheias inundavam completamente a parte baixa do Mondego, cortando mesmo o acesso a Coimbra do lado da Cidreira pelo choupal, a solução era dar a volta pela Adémia. Aqueles que arriscavam a travessia pelo choupal sujeitavam-se a perder a vida, como aconteceu a uma família de Cantanhede por volta de 1956.
Nessa altura não pensava eu, que era nesta cidade que se iriam passar muitos episódios da minha vida, tais como: com os meus 16/17 anos já vinha de bicicleta, (lembro que sou de Vila Nova de Outil e que fica daqui a 25 quilómetros) para cá retocar cantarias que vinham das nossas pedreiras. 
O almoço era uma posta de bacalhau, um pão de segunda e meio litro de vinho, que comprava na tasca mais próximo da obra. A posta de bacalhau era assada nas brasas duma fogueira feita para o efeito, no local de trabalho. Esta refeição custava menos de cinco escudos, numa altura em ganhava-mos trinta por dia. 
Foi aqui também que cumpri o serviço militar no quartel de Santa Clara. Em 1959 adquiri a carta de condução de automóveis ligeiros e pesados, que me habilitou a exercer a profissão de motorista. Nessa condição, aqui vim muitas vezes com carradas de cantaria e de retorno levava areia que carregava no rio Mondego, que quase secava no verão. 
A entrada era numa rampa próximo da Estação Nova, que ainda hoje existe. Anos mais tarde prestei aqui serviço como agente da Polícia de Segurança Pública que a meu pedido, abandonei em 1966 para seguir novos horizontes. 
Foi nesta cidade que frequentei o 5º ano do 2º ciclo liceal, no Externato São Tomás de Aquino, creio que já não existe. Foi aqui também que anos mais tarde, fui com sucesso, operado às duas ancas. E agora com 77  anos, foi-me detetado um carcinoma e estou à espera da cirurgia que vai ser efectuada, também nesta cidade, no Instituto Português de Oncologia, que espero também que tenha sucesso. Falta saber se este é o último episódio da minha vida nesta cidade, aguardo com esperança que não seja!


P.S.: Comecei a escrever este texto no dia 16 de Janeiro, dia em que soube que carregava comigo, um monstro, que se chama cancro. Curiosamente, na hora em que terminava este escrito, deram-me a notícia de que a cirurgia vai ser amanhã. Afinal não foi este amanhã, aconteceu que depois de estar preparado para entrar no bloco, o cirurgião informou que por um motivo que desconheço, já não me podia operar. Mandaram-me para casa e que me voltavam a convocar, o que aconteceu logo no dia seguinte. 
Fui operado no dia 12 deste mês de março, a operação correu bem e agora espero o resultado da análise do tumor que me extraíram, para saber as terapias a que vou ser sujeito. Espero com alguma esperança o desenrolar de mais este episódio passado nesta cidade.

O Caminho Da Vida, Segundo A minha Perspectiva

Vou definir este caminho em três pontos. 
Imagine um círculo, que na minha imaginação é o nosso mundo, dentro dele, um losango com os vértices mais fechados, no sentido vertical, e a tocar o perímetro desse circulo e com os vértices mais abertos à altura do diâmetro. O início da vida, começa no ponto zero do ângulo inferior do losango e o fim no ponto zero do ângulo superior. Em toda a sua área desenvolve-se toda a nossa vivência, que é recheada duma abundante panóplia de feitos e episódios. Este caminho é igual para todos, independentemente de quem o atinge mais rápido, ou aqueles que chegam ao fim a passo de caracol, (neste caso toda a gente gostaria de ser caracol, o que é impossível de acontecer). 
Todos temos um principio, um meio e um fim. 
No que me diz respeito, que estou numa posição onde o caminho cada vez mais se aperta, apraz-me dizer que já me aconteceu de tudo na vida menos a morte, que é uma certeza para todos, por isso “ela” não me assusta assim tanto. E como a esperança é a última coisa a morrer, espero que “ela” esteja ainda longe do ponto zero do ângulo superior do losango. 
Felizes daqueles que acreditam que nesse ponto existe uma porta embora estreita, por onde as almas se libertam para outra vida!