O
EMIGRANTE DOS ANOS 60, DO SÉCULO PASSADO
E O EMIGRANTE PRESENTE.
E O EMIGRANTE PRESENTE.
AS
DIFERENÇAS
O
emigrante português, dos anos 60, era conhecido pela mala de cartão
e pelo garrafão de 5 litros. Quando nos encontrávamos no comboio,
ou em qualquer parte dos países de destino, não precisávamos
perguntar de que nacionalidade era, o garrafão era o seu bilhete de
identidade, mas isto não o desprestigiava. O emigrante português
era conhecido e aceite como honesto e trabalhador.
Os
emigrantes daquele tempo sofreram todas as adversidades para poderem
emigrar, pois o regime daquele tempo não lhes dava a liberdade de
sair do país, vivíamos em clausura, (Salazar dizia; “orgulhosamente
sós”) e pobres como “Jó”, digo eu. A maior parte deles
sujeitaram-se a fugirem como ladrões, entregues a pessoas que não
conheciam e a entregar-lhe quantias exorbitantes para os passarem
para o “lado de lá”, (Espanha e França) quantias essas
emprestadas pelas pessoas abastadas do sítio onde moravam e que no
trabalho os exploravam quanto podiam.
E lá foram eles sujeito a
tudo, passaram fome, dormiram em palheiros, muitas vezes fechados em
cortelhas de animais, sem conhecerem o “passador” que os trouxe
até ali, nem “o” que os ia conduzir dali para a frente, sofrendo
com o calor que os sufocava, se era de verão, ou lhes gelava os
ossos se era de inverno, carregando o pesadelo de não saberem o que
lhes ia acontecer no dia seguinte, porque estas viagens duravam
vários dias. Atravessaram montanhas, rios e riachos, especialmente
nos Pirineus, quase sempre a pé, ou dentro de camionetas de
transporte de gado.
Enfim, os que conseguiram passar, porque houve
muitos que tiveram que voltar para traz, pois quando as autoridades
portuguesas e espanholas, os encontravam no trajecto, tratavam-nos
como animais e os obrigavam a regressar a casa mais pobres do que
saíram. Felizmente isto não aconteceu a todos e os que conseguiram
“passar” lá estava França a recebê-los.
Quero aqui afirmar com
conhecimento de causa, que foi a França o único país que nos
aceitou sem contracto, dando-nos trabalho e que financeiramente nos
tirou da miséria onde vivíamos. Eu sou emigrante dos anos 60 e
sabem quantas casas na minha terra tinham casa de banho? Contavam-se
pelos dedos de uma mão, passados poucos anos começaram a emergir
nas nossas aldeias as casas tipo “maison, com janelas por dentro e
fenêtres por fora”,( Isto era dito por pessoas que , talvez como
uma certa inveja, se sentiam ultrapassadas) mas também tinham casa
de banho por dentro, o que levava algumas pessoas duma faixa etária
mais adiantada, dizerem que as casas eram muito bonitas, mas fazerem
as necessidades fisiológicas dentro de casa, é que não
concordavam!
Eu
estava a falar dos que conseguiram chegar ao destino e foram esses a
base do emigrante de hoje. Esses que já não usam a mala de cartão,
mas sim uma pasta de calfe e dentro dela o tal “canudo”. Aqui
estão as diferenças; Os emigrantes dos anos 60, fugiram porque o
regime de então não lhes dava a facilidade de saírem livremente
para deixarem a miséria em que viviam. Os emigrantes de hoje são
empurrados pelo governo actual a deixarem o país, porquê? Porque
voltamos á miséria desse tempo.
O
emigrante de então levava na bagagem as mãos calejadas para usarem
a picareta porque não possuíam qualquer formação, quantos eram
analfabetos e outros mal sabiam escrever o nome. Eu contactei com
emigrantes de todas as regiões, uns mais letrados, outros não,
alguns nem sabiam o que era o quilómetro, quando eu lhes perguntava
por exemplo; a que distância morava da freguesia, eles
respondiam-me: Olhe, fica aí a um tiro de chumbo ou o tempo de fumar
um cigarro dois ou três consoante a distância, para estes só lhes
restava como trabalho o uso da picareta.
Nesse tempo os emigrantes
levavam consigo azeite, feijão e outros alimentos, como chouriço e
presunto, que lhes bastasse para a estadia lá até voltarem de
férias, férias que cá nunca tiveram. Isto tudo porque como diziam,
mostrando um franco entre os dedos, isto lá em “baixo”,
referindo-se a Portugal, vale cinco.
Era verdade, o franco valia
cinco vezes mais que o escudo e o custo de vida lá era pouco
superior ao de cá pelo que, com um pouco de poupança dava para
amealhar três partes do ordenado, que era cinco vezes mais do que
auferiam cá.
O
emigrante de hoje leva na pasta o tal “canudo”, produto do
sofrimento dos seus pais ou avós, que hoje voltam a sofrer, por ver
os seus descendentes, serem obrigados a emigrar, embora sem o medo de
serem presos na viagem pelas autoridades. Esta vaga de emigrantes de
canudo, já não vão fazer comer, lavar a roupa ou dormir nas
barracas de “Champigni”, nem sujeitos a todos os tipos de
trabalho. Levam consigo formação que lhes permite trabalhar de bata
branca, formação paga pelo erário público com o sacrifício de
todos nós e que agora vão desenvolver e ajudar a economia
estrangeira, enquanto a nossa se afunda cada vez mais. Serão isto
soluções certas?
Senhores
governantes aprendam a governar!...
2 comentários:
Que grande artigo "Ti Albertino".... Verdades duras, mas sinceras, de tempos de agora que lembram o Antigamente. E um governo passivo que tem ano após ano, desde a queda de Salazar, tem levado para um abismo financeiro Colossal, abastando mordomias das gentes do Governo e sua nobreza. Sábias Palavras do "Ti Albertino" que como muitos, lutou para ter uma vida melhor. Bem Haja.
JSeiça
Que grande artigo "Ti Albertino".... Verdades duras, mas sinceras, de tempos de agora que lembram o Antigamente. E um governo passivo que tem ano após ano, desde a queda de Salazar, tem levado para um abismo financeiro Colossal, abastando mordomias das gentes do Governo e sua nobreza. Sábias Palavras do "Ti Albertino" que como muitos, lutou para ter uma vida melhor. Bem Haja.
JSeiça
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