sexta-feira, 1 de julho de 2011

Clube União Vilanovense

Estamos na época de Natal.
E é nesta quadra que eu mais recordo o nosso C. U V., a causa era o teatro, todos ansiávamos para assistir à representação duma peça. Peça essa que era seleccionada pelo encenador, isto naquele tempo, estou a falar dos anos 50, era muito difícil, tendo em conta as personagens e as famílias a que pertenciam. Os pais das e dos jovens solteiros tinham que dar autorização, e queriam saber os personagens com quem iam contracenar, não fosse nascer daí um casamento com quem não concordassem. 
Além disso, havia a pressão das pessoas que se julgavam donas do C.U.V. criaram ali uma elite que, no conceito deles, só era gente quem pisava o palco. Mesmo assim com altos e baixos, o teatro chegou aos dias de hoje (2010), mas já sem a paixão de outrora, porque havia personagens que, quando choravam no palco era mesmo a sério. Dizerem que só era gente quem pisava o palco é exagero, mas que dado o nível escolar daquele tempo, ajudou muito, ao ponto de alguns personagens que por ali passaram, dizerem que a cultura que possuíam, se devia exclusivamente ao teatro. Estou a lembrar-me do ti Luís Baía, dizer isto mesmo a uma reportagem da R.D.P. Coimbra, que em 1981 aqui veio realizar, quando este actor já era encenador. O ti Luís Baía era um actor de sentido cómico, que até hoje não foi superado nessa área, que me desculpe o Zé Palála, outro cómico dos nossos dias. O nosso C.U.V. foi inaugurado no dia de natal de 1927, com uma peça de teatro, OS MILAGRES DE SENHORA DA NAZARÉ, sendo tradição desde aí, a representação de teatro pelo Natal, e este ano não vai ser excepção.
Vou tentar, de acordo com os meus conhecimentos de há mais de seis décadas, pois sou sócio desde dos meus 16 anos, (1953) reproduzir o historial da colectividade e do teatro. Esta colectividade foi a continuidade duma outra, que já existia antes, da inauguração desta em 1927, com o nome de Grémio, que funcionava numa dependência da casa do ti António Louro, foi nesta sociedade que nasceu o teatro em Vila Nova, muito por influência duns senhores que vinham das Alhadas para aqui trabalhar a pedra, (canteiros) pois na terra deles já se representava a arte de Talma. 
É daqui que saem um grupo de sócios com o propósito de criarem uma nova colectividade, parece que não foi fácil porque não houve acordo de todos, criaram uma rivalidade que durou muitos anos a extinguir-se. Contudo os que estiveram de acordo, conseguiram com a ajuda da maioria do nosso povo, que sempre soube dizer presente, especialmente quando há rivalidades, mas isto ainda hoje acontece, quando estamos todos de acordo, não fazemos nada. 
E assim conseguiram construir aquele edifício, sem a ajuda de quaisquer subsídios do Estado. O edifício já sofreu algumas alterações de visual, mas a raiz da sua construção continua a mesma e o fim para que foi construído também, isto é, representações teatrais e bailes, funcionou assim durante muitos anos, hoje tem anexado uma secção de desporto, com um campo de futebol próprio e instalações sanitárias incluindo chuveiros. A sede do clube tem servido também para muitos outros eventos, ultimamente tem trabalhado com os jovens nos tempos livres e com alguns cursos de interesse social.
 
Pronto! Não sendo tudo o que tinha para dizer, e antes de terminar, quero aqui prestar a minha homenagem, quer a título póstumo, quer aos personagens actuais pelo sacrifício que todos os anos fizeram e fazem, depois de um dia de trabalho, para ali se deslocam à noite, suportando o frio que se faz sentir nesta época do ano, durante mais de dois meses, ensaiando todas as noites, para que tudo corra bem na noite de Natal, não esqueçamos as senhoras que deixam a louça no poio, por lavar, para não chegarem atrasadas aos ensaios. Fica este registo para memória. O Clube continua lá, é pena que o sofá e a televisão nos tenham afastado!

Escreveu Albertino Pereira Coelho, sócio Nº 5


(clicar nas imagens para aumentar)

1 comentário:

Ilidio disse...

Este artigo espelha bem o que foi a criação e evolução do CUV. Coincide exactamente com o que o meu avô sempre me descreveu e ensinou.
Falta recolher, analisar, tratar, encaixilhar, guardar e expor publicamente todos os prospectos sobre as peças de teatro, os bailes e outros acontecimentos culturais que, para os vilanovenses, têm um sentido histórico muito acentuado.
Não sei se esse trabalho foi feito e esta minha opinião pode estar desactualizada. De qualquer forma, deixo aqui este registo.
Quero realçar e louvar esta oportunidade de ouro, que nos é dada pelo autor deste magnífico blogue, em partilhar ideias e comentários sobre Vila Nova.
Mais uma vez, os meus parabéns.
Ilídio Sacarrão Martins